POESIAS II
E hoje me questiono se tem como viver sendo preto
Preto da dor, da cor e do ardor
Do grito relutante que luta
Todos os ditos santos dias
Leio, releio
Não me encontro, em nada
Disso surge o acaso e dele me desespero
Saio de Filosofia e entro no reencontro do s(S)er
Me misturo no meu e quando me encontro...
Eles dizem não
Eles fazem doer
Eles barram o reencontro e me desmonto
No complexo da dor
Vejo a banalização e a marginalização
A pior faceta que talvez melhor se viva
Ainda viva? Ainda morta?
Todos os dias
Luta, sangue e corre
De arte, de filosofia e do eu
Desesperada pra viver sem o desespero
Acordada todo tempo pra viver como Ser
Entre dois mundos
O dito céu e o inferno
Obra da falsa valorização
Hoje eu queria contar uma história
Baseando-se em uma história sem glória
Mais uma criança negra nasce, isso é um momento feliz
Nesse mesmo momento, outra criança negra morre
Mais uma criança, mais um adolescente e mais um adulto
Diria que todo segundo um dos nossos morrem
Eu aos 20 anos me encontro morrendo ao duvidar de mim, da minha razão e da minha capacidade
E assim eu vou morrendo por algo particular que não é tão particular
Todos os dias nesse país tem milhares de pessoas lutando para rodar um sistema
Existindo disso um fogo imaginário que vai incendiando
Aos poucos esse jogo vai queimando
Aos poucos vamos ocupando espaços que eles não querem , aos poucos
Enquanto isso acontece, mais um branco joga fogo em 10 dos nossos
Havendo uma repressão não imaginária pelo nosso fogo imaginário
Como se ainda existisse uma propriedade pela escravização, mas mesmo assim, todos os dias continuamos colocando fogo no sistema ocidental.
Hoje a branquitude que me mata é a mesma que me questiona o motivo desse país não esteja pegando fogo agora, esse mesmo branco que é considerado Ser e me joga para a subalternização, esse branco me cobra algo que é culpa dos mesmos.
O primeiro a ser analisar é o lugar da branquitude e uma epistemologia que a pertence, se em 500 anos nada mudou, acontece que só houve uma ressignificação desse processo colonial, não tem porque eu questionar e tentar fazer essas pessoas racistas entenderem que sou humana e não inferior.
A má-fé do homem que colhe o fruto da colonização, ele se transforma em um falso discurso antirracista, que vende nosso sangue, parafraseando @djongador , é esquerda de lá, direita de cá e o povo segue firme tomando no centro.
Conhecemos a branquitude desse país, eles não vão gostar quando a gente colocar fogo físico esse país, que foi transformado em um quintal do imperialismo e se há respeito por esse espaço é apenas pela terra dos irmãos indígenas, pois esse país é um resultado de políticas hegemônicas.
O meu ser é viver
Ser não é viver
Me falaram que sou ser(que existe ser)
Ser que me impede de viver
Teu ser me tira pelo meu ser
Eu sai de onde tava
Voltei de onde vim
Teu ser me põe aqui
A liberdade não chegou aqui
Avisa aos teus que os meus não estão aqui
O viver é me tirar de si?
Me sequestraram e eu estou aqui, não sei se vou tá ali
Me sequestraram novamente que eu não quero tá aqui
Porque o ser deles querem que eu volte de onde vim
Mais uma vez eles querem mostrar que podem nos tirar daqui Tirar o que se vocês já nos roubaram de lá?
Nos sequestraram, nos maltrataram e esperam o milagre
A piedade de quem é o algoz não nos satisfaz
Vocês querem que eu agradeça por vocês fazerem o mínimo?
Pedir desculpas é fácil, quero ver abdicar dos privilégios
"Mas eu não tenho culpa de quem escravizou os seus"
E eu tenho culpa da ignorância dos teus?
Ignorância essa que perpetua o regime autoritário e colonial
'ah, mas a esquerda tá lutando pela equidade'
Vocês só sabem gritar por uma liberdade que destrói liberdades
Ou você nunca reparou que o encarceramento em massa da população negra é prisão política
Que em sua grande maioria é o povo preto quem grita por liberdade dentro do sistema escravocratico
Falam que esse lugar não é meu, falam que meu povo não é suficiente
Que eu não penso, que eu não faço ciência
Dizem que eu exponho minha opinião
Mas opinião essa que vocês precisaram roubar do meu povo para fazer a sua ciência(para dizer que vocês têm ciência)
Aprendi sobre o processo de aquilombamento que vocês tanto esconderam
Conheci meus ancestrais e os respeitei
Eu nunca levei chicotada
Mas sou rejeitada, humilhada e jogada
Pela sociedade racista e aristocrática
Meu cabelo saúda meus ancestrais que levaram chicotadas
Pra eu precisar respirar e ser considerada
Ser e entender o ser, e entender que posso viver
Resistência é a arte mais antiga do meu povo
"Eu tô a frente do seu tempo, fazendo duas vezes mais"
Tentaram me afastar, mas eu consigo chegar lá
Brancos medíocres que só sabem reclamar
'cota é desperdício, esses pretos vão roubar nosso lugar'
Vocês têm medo dos pretos ou da imagem de vocês?
Porque eu consigo chegar lá e te deixar pra cá
Jogada aos teus